quinta-feira, 31 de julho de 2025

Vikings e a Duplicidade de Critérios

Recentemente, assiti um filme de ficção histórica onde os vikings são os mocinhos que salvam um pobre vilarejo atacado por monstros misteriosos em troca de nada: “O Décimo Terceiro Guerreiro”. Foi um filme divertido e tudo, a cena onde o protagonista aprende a língua dos vikings é especialmente legal, e eu não vim aqui reclamar dele, mas sim comentar uma coisa que esse filme me relembrou: a duplicidade de critérios, ou o padrão duplo com o qual a maioria das pessoas se aproxima de diferentes culturas históricas.

O que eu quero dizer com isso é que, os Vikings são especialmente lembrados por atacar comunidades distantes, saquear seus tesouros, escravizar suas populações (incluindo para a execução de serviços sexuais), realizar sacrifícios humanos para religiões pagãs, e mesmo assim são celebrados como grandes guerreiros corajosos e nobres... enquanto os povos indígenas das américas, que praticavam atividades semelhantes, são vistos como selvagens, incapazes de empatia ou raciocínio.

Os romanos são muito foda por conquistarem tanto território, e definitivamente carinhas muito legais apesar da escravidão, tortura, massacres e tudo o mais. Já os mongóis não, eles eram monstros terríveis com apetite insaciável por terra que nunca lhes pertenceu, que absurdo! (Inclusive em Ranger, os mongóis são vilões, e os Vikings mocinhos).

As cruzadas da igreja católica também são outros eventos extremamente romantizadas, os cruzados sendo vistos como grandes símbolos de virtude; ao mesmo tempo que outros eventos significantes de outras religiões são taxadas como marcos de barbaridade, como a Revolta dos Malês (que, diga-se de passagem, era muito mais justificável, né).

Já ouvi inúmeras desculpas do porque essas são coisas completamente diferentes e incomparáveis.

Por exemplo, o número total de pessoas mortas por motivos religiosos na Europa ser menor que aquele das Américas indígenas, mas isso não é verdade: só as cruzadas resultaram entre 1 e 9 milhões de vítimas (e pelo menos um grande episódio de canibalismo), até 60 mil pessoas foram mortas nas caças as bruxas, o massacre dos gnósticos resultou entre 200 mil e 1 milhão de vítimas, incluindo mulheres e crianças... e isso é apenas uma fração de todos os massacres perpetuados pela religião cristã da época.

Também já ouvi que os romanos são tão admirados assim porque eles eram tão maneiros com seus povos conquistados, enquanto os mongóis não, sendo que eles costumavam torturar cristãos até a morte publicamente e em massa.

Mas a verdade é que isso não é lá um fenômeno muito misterioso, né? Os vikings são grandes e os tupis bárbaros pelo mesmo motivo que o Império Inglês é heroico enquanto o Império Mugal é vilanesco, ou adorar a santos e pastores é sagrado, mas seguir religiões de origens africanas é demoníaco. Porque essas coisas são europeias, e nossa cultura gira ao redor de puxar o saco de europeus.

 

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Fontes:

 https://apholt.com/2019/01/30/death-estimates-for-the-crusades/

Robertson, John M. (1902). A Short History of Christianity. London: Watts & Co.  (https://archive.org/details/bub_gb_bAQ_AAAAIAAJ/page/n267/mode/2up?view=theater)

https://en.natmus.dk/historical-knowledge/denmark/prehistoric-period-until-1050-ad/the-viking-age/religion-magic-death-and-rituals/human-sacrifices/

 

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