terça-feira, 7 de outubro de 2025

Especial de Halloween/Dia das Bruxas (07/10/2025) 👹

Lugares assombrados. Os associamos com ruínas distantes e marcos isolados. Afinal, é impossível que um lugar que já visitamos centenas, ou milhares de vezes e nunca tivemos problemas antes, de repente, se revele diretamente conectado com o outro mundo... não é?

Esse é um relato real, contado a mim pelo meu avo por parte de mãe.

Meu avô é um homem do interior, sempre foi, e costumava me contar histórias incríveis e interessantes de como sua vida era em sua cidadezinha brasileira típica muito antes de postes elétricos cortarem o país de ponta a ponta. Falava que, quando moço, tudo era produzido pela comunidade local, das roupas que vestiam à comida que comiam, a única exceção à essa regra sendo o sal, que só era encontrado no centro do município, na zona costeira. Também me falava que fome era uma companheira tão constante quanto a própria sombra.

Não é de se surpreender então, que em noites limpas de lua cheia, quando era possível navegar as ruas e campos sem a necessidade de lampiões ou outras fontes de luz artificial, meu avô saísse para pescar na lagoa próxima. Já havia o feito inúmeras vezes antes, e sequer era um hábito na época.

De barriga roncando, dificultando o sono, meu avô avançava lagoa adentro sob a luz do luar, e tarrafeava os peixes que quebravam a superfície calma da água. Verdadeiramente um cenário digno de um belo quadro a óleo.

Vale notar, porém, que esta lagoa possuía uma particularidade: ela era muito rasa, não passando da altura do peito de um homem... isso é, até seu próprio coração, quando o chão desaparecia repentinamente sob os pés, terminando abruptamente num abismo de forte correnteza gélida, quase impossível de se escapar. Isso se devia ao fato de que essa lagoa era, na verdade, periodicamente conectada ao oceano, tal abismo e correnteza sendo frutos da erosão causada pelas marés.

Apesar disso, o local era perfeitamente seguro, contanto que visitantes se mantivessem afastados da “vala” como chamavam os locais. E é claro, meu avô estava perfeitamente ciente da formação.

Melhor ainda, ele havia acabado de notar peixes saltando ao ar, suas escamas refletindo como prata sob a luz do luar. Ou melhor, como prato. O pescador avançou na direção dos peixes, atirou a tarrafa e... Nada.

Nenhum animal havia sido capturado pela ferramenta. Mas, afinal, a situação não era tão ruim assim, pois os peixes saltaram à superfície mais uma vez, e apenas alguns passos adiante.

Meu avô os perseguiu, tarrafeou, e recolheu nada mais uma vez. E de novo, os peixes saltitaram logo adiante, como se zombando dele.

O processo foi repetido tantas vezes, os minutos foram passando, as nuvens aos poucos bloqueando a luz do luar, e a fome crescendo.

Fome. A mesma coisa que trouxe meu avô até aquela lagoa tranquila no meio da noite, foi a coisa que o fez olhar para trás e na direção de sua casa; talvez ainda houvesse alguma farinha e sal para se fazer um pirão de água, ao menos...

Foi então que ele percebeu: já havia andando para muito longe da costa. Na verdade... Bem quando tornou a olhar adiante, onde os peixes zombeteiros saltavam para fora d’água, a luz da lua brilhou forte mais uma vez, desimpedida por nuvens, e o pescador finalmente a viu. A escuridão.

Apenas alguns passos adiante, bem sob os peixes que estava perseguindo a noite toda, encontrava-se a “vala”. Se ele houvesse decidido tarrafear somente uma única vez a mais... ele poderia nunca mais ter voltado para casa.

Mas naquela noite, ele voltou. Jogou a tarrafa sobre os ombros, e correu de volta para a terra firme. De repente as escamas acinzentadas dos peixes não cintilavam mais como prata... mas sim como ossos molhados.

Nenhum comentário:

Postar um comentário