terça-feira, 24 de junho de 2025

Erros Em Vídeos De Nostalgia

Eu sou um idoso caquético de 24 anos, praticamente com o pé na cova já, e agora que me aproximo de meus últimos dias na terra, eu olho para o passado através de lentes cor de rosa. Uma experiencia que todo ser humano um dia vai ter. Consequentemente, eu gosto de conteúdo que fala da primeira década dos anos 2000... porém, alguns criadores de conteúdo, quando abordam esse tópico, cometem alguns erros bastante gritantes, para alguém que cresceu nessa época.

Eles descrevem uma experiência super evidentemente super americanizada, como se esse criador de conteúdo tivesse apenas traduzido um artigo do inglês sobre nostalgia dos EUA, e o lido sem pensar duas vezes.

Nesse tipo de descrição vemos um protagonismo forte por marcas de comida tipicamente americanas, que mesmo em casos onde realmente já existiam no país nessa época, muitas vezes eram confinadas a apenas, literalmente, uma cidade. Tipo, gente, em 99% dos casos, quando a gente pedia uma pizza, ela vinha de uma lanchonete local, não de uma marca “aesthetic” norte americana. Em pleno 2025, somente cidades maiorezinhas têm acesso a fast foods famosinhos. Em pleno 2025 tem cidade que não tem Uber, cara. Imagina naquela época, como era o acesso a essas coisas. Talvez se você morasse numa das maiores cidades do Brasil e/ou tivesse uma situação financeira muito bacana, mas essa não era a experiencia padrão.

Outra coisa, vemos redes sociais que não foram tão relevantes no Brasil sendo apontadas como grandes marcos culturais para nossa nação, quando esse não foi o caso. Gente, eu acho o MySpace deve ter sido sim muito legal, mas ele teve 10 VEZES menos usuários que o Orkut. Eu sou um grande nerdola que passou mais tempo da minha vida online do que na vida real, e mesmo assim eu só fui ouvir falar dessa rede social uma vez que eu passei a frequentar a internet inglesa.

E por fim as experiências descritas nesses vídeos são meio estranhas, tipo, como assim você sai de noite para ir para a 7eleven, cara? Tu morava no Japão, por acaso? Para esses criadores de conteúdo, todo mundo tinha eletrodomésticos dos mais caros, frequentava Cool Math Game, e viam o fim de ano na Times Square.

Mano, no Brasil a gente tava comendo bolo coberto por bolinhas de chocolate cromadas, toda parede era rebocada com o a textura de ranhura, e na minha cidade pelo menos, ar-condicionados eram tão raros que existiam lendas urbanas de morte por choque-térmico devido ao uso desses aparelhos; e isso leva a outro ponto sobre a época, que é aquele de que o mundo não era nem de perto tão interconectado quanto hoje em dia.

A internet ainda estava em sua infância, a maioria das pessoas sequer tinha um computador em casa, e celulares só passaram a ter acesso a internet muito anos depois. Por isso o Latino podia simplesmente traduzir uma música estrangeira e relançar como se fosse dele, e todo mundo achava o cara um gênio musical, por isso muito da cultura da época podia ser coisas bem localizadas ainda... o que me força a admitir que esses criadores de conteúdo nostálgico podem não estar 100% errados, mas tiveram apenas a vida mais privilegiada disponível para o habitante das maiores metrópoles do país, é claro.


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