O índice de alfabetização no Brasil era o tópico de um vídeo que vi recentemente.
O vídeo descrevia cada um dos níveis de alfabetização e seu
apresentador se preocupava com o que eles significavam de verdade, chegando à
conclusão de que 65% dos brasileiros são praticamente analfabetos.
Foram discutidos vários dados interessantíssimos no vídeo e
de forma muito eloquente por alguém claramente bastante capacitado, incluindo
os 10 livros mais vendidos do ano, sobre os quais, é claro, o apresentador
malhou o pau: 4 eram livros de colorir para adultos (incluindo o mais vendido
de todos), 2 eram livros religiosos, e 1 era de autoajuda.
E com toda essa informação você pode definitivamente montar
um quadro onde o Brasil vive uma crise cultural, como o apresentador do vídeo deu
a entender... Mas eu sempre sinto um pouco de relutância de afirmar essas
coisas com tanta certeza assim.
Digo, não podemos analisar essa lista de outra forma?
Talvez esses quatro livros de colorir não representem um
declínio intelectual do país, mas uma fatiga quase que pandêmica da população
adulta com cargas horárias de trabalho cada vez maiores, e poder de compra cada
vez menor?
Eu falo por mim mesmo quando digo que eu amo quebra cabeças,
por mais que sejam brinquedos para crianças, porque estimula seu cérebro sem
necessariamente fazer você se sentir cansado por isso, e te permite um espaço
de relaxamento longe das telas; imagino que livros de colorir, ainda mais esses
da lista que são especificamente voltados para o público adulto, possam muito
bem ter o mesmo efeito.
Talvez esses dois livros religiosos estejam fazendo a mesma
função que a fé sempre assumiu em qualquer outro tempo difícil, e oferecendo
uma promessa de paz, se não no mundo físico, no espiritual?
A igreja aqui perto de casa, por exemplo, tem uma placa
enorme prometendo que pode te fazer parar de sofrer se você se juntar a
comunidade (e por favor, não discutam a ética disso nos comentários).
Posso dizer o mesmo para os livros de autoajuda ou
investimento da lista; e para muitas outras coisas também como o recente
explosivo vício em aplicativos de apostas: são distrações ou promessas de
melhora para pessoas vivendo situações desesperadoras... e vamos ser honesto,
em suas vidas financeiras.
É difícil cultivar o hábito da leitura quando você dedica
doze, treze horas por dia, seis dias por semana ao seu trabalho, e você tem o
dinheiro contadinho para o quanto você pode gastar com coisas que não sejam
absolutamente necessárias para sua sobrevivência nesse mês.
É claro que eu gostaria que os brasileiros lesem mais, eu
amaria viver num país onde eu posso discutir sobre livros em qualquer ponto de
ônibus ou fila de caixa de supermercado, mas eu acho que é um pouco injusto
julgar a forma como meus compatriotas decidem gastar seu tempo e dinheiro
extremamente limitado.
Quando tentei manter “hábitos saldáveis” de leitura enquanto
trabalhando como CLT e estudando ao mesmo tempo, eu parei no hospital, afinal.
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