Fantasmas, lobisomens, aparições... o sobrenatural. Nos dias de hoje, histórias de tipo, geralmente são limitadas a localizações específicas e suas interações com o mundo material ou testemunhas são limitadas; vultos vistos em construções abandonadas, ou vozes em florestas isoladas, eventos presenciados somente por pessoas solitárias... Mas nem sempre foi assim. As histórias assombradas contadas pelos antigos, vivenciadas por eles, muitas vezes escapam os tropos com que estamos acostumados. Esse é um relato real que ouvi de meus próprios familiares.
Quando minha avó por parte de pai era ainda uma criancinha,
certa vez, ela viajava com sua mãe, e um cocheiro, tomando carona na caçamba de
uma carroça. O dia era bonito, o céu estava azul, os adultos conversavam ao seu
redor, e o veículo puxado a cavalos cruzava um amplo campo aberto. Você não
estaria errado se pensasse que esse é um cenário mais apropriado para um conto
de fadas.
Durante a viagem, a criança observava as árvores passando a
distância, a grama dançando ao vento, e as nuvens preguiçosamente seguindo rumo
ao mar, não tão diferente de como alguém pode fazer hoje durante um longo
passeio de carro. Ela apontava as coisas para sua mãe, que respondia
alegremente à curiosidade da filha entre os diálogos que tinha com o cocheiro
bem humorado.
A menininha apontava para uma flor, tornava para a própria
mãe, e descrevia a beleza da planta. A mãe respondia, e a criança voltava a
procurar o próximo alvo de seu interesse. Uma nuvem engraçada, uma pedra
solitária, uma árvore partida... a criança se pendurava hora num lado, hora no
outro na carroça, se entretendo com a passagem do belo cenário natural e
deserto ao seu redor.
Ela havia acabado de notar outra daquelas flores lindas que
sua mãe sabia o nome, mas ela mesa já havia esquecido, crescendo ao lado da
estrada, e quando se virou na carroça...
De repente, companhia.
A caçamba que definitivamente carregava apenas mãe e filha,
então dava espaço para também, um grupo inteiro de crianças, todas de branco,
todas de expressão neutra, todas em silêncio.
Minha avó, naturalmente, ficou curiosa. Digo, ela estava
constantemente olhando ao redor da carroça a viagem inteira, e se encontravam
num amplo campo aberto, ninguém poderia ter se aproximado da carroça sem que
ela percebesse, muito menos um grupo inteiro de crianças. Logo, a menina abriu
a boca para perguntar à sua mãe quem eram seus mais novos acompanhantes de
vigem, mas antes que sequer pudesse terminar sua pergunta, sua doce mãe se
mostrou brusca e dura: mandou fazer silêncio.
Só então minha avó percebeu que os adultos não conversavam
mais.
Quem eram as crianças de branco que apareceram do nada? Por
que os adultos exigiam silêncio? Como sequer aquele grupo parou ali sem que ela
percebesse? Sua curiosidade tornou-se pavor.
Sua mãe tentava se mostrar calma, talvez a fim de evitar que
filha se desesperasse ainda mais, mas era evidente no suor que refletia a luz
do sol em sua tez, que aquilo era apenas uma fachada. O charreteiro parecia
hesitar em sequer fazer soar os estalidos e ordens necessárias para guiar os
cavalos que puxavam a carroça. A pobre menininha que era minha avó nessa época,
que mal entendia como o mundo funcionava, e tinha apenas uma instrução a seguir
nessa situação, deixada praticamente às cegas: faça silencio.
Felizmente, os passageiros que haviam aparecido na caçamba da
carroça tão de repente, depois de tantos minutos de passeio, ainda em silêncio,
simplesmente desceram da carroça um a um, ainda no meio do nada. Então, eles
tomaram uma direção tão desprovida de civilização quanto qualquer outra naquele
ermo, e continuaram a caminhar, até que desapareceram por trás do horizonte.
Uma ou duas horas depois do evento, os adultos voltaram a
mostrar alguma vivacidade, mas o bom-humor de antes parecia ter evaporado, e
ambos apenas recusavam responder qualquer pergunta da garotinha quanto sobre as
crianças de branco...
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