sábado, 4 de outubro de 2025

Especial de Halloween (04/10/2025)

Fantasmas, lobisomens, aparições... o sobrenatural. Nos dias de hoje, histórias de tipo, geralmente são limitadas a localizações específicas e suas interações com o mundo material ou testemunhas são limitadas; vultos vistos em construções abandonadas, ou vozes em florestas isoladas, eventos presenciados somente por pessoas solitárias... Mas nem sempre foi assim. As histórias assombradas contadas pelos antigos, vivenciadas por eles, muitas vezes escapam os tropos com que estamos acostumados. Esse é um relato real que ouvi de meus próprios familiares.

Quando minha avó por parte de pai era ainda uma criancinha, certa vez, ela viajava com sua mãe, e um cocheiro, tomando carona na caçamba de uma carroça. O dia era bonito, o céu estava azul, os adultos conversavam ao seu redor, e o veículo puxado a cavalos cruzava um amplo campo aberto. Você não estaria errado se pensasse que esse é um cenário mais apropriado para um conto de fadas.

Durante a viagem, a criança observava as árvores passando a distância, a grama dançando ao vento, e as nuvens preguiçosamente seguindo rumo ao mar, não tão diferente de como alguém pode fazer hoje durante um longo passeio de carro. Ela apontava as coisas para sua mãe, que respondia alegremente à curiosidade da filha entre os diálogos que tinha com o cocheiro bem humorado.

A menininha apontava para uma flor, tornava para a própria mãe, e descrevia a beleza da planta. A mãe respondia, e a criança voltava a procurar o próximo alvo de seu interesse. Uma nuvem engraçada, uma pedra solitária, uma árvore partida... a criança se pendurava hora num lado, hora no outro na carroça, se entretendo com a passagem do belo cenário natural e deserto ao seu redor.

Ela havia acabado de notar outra daquelas flores lindas que sua mãe sabia o nome, mas ela mesa já havia esquecido, crescendo ao lado da estrada, e quando se virou na carroça...

De repente, companhia.

A caçamba que definitivamente carregava apenas mãe e filha, então dava espaço para também, um grupo inteiro de crianças, todas de branco, todas de expressão neutra, todas em silêncio.

Minha avó, naturalmente, ficou curiosa. Digo, ela estava constantemente olhando ao redor da carroça a viagem inteira, e se encontravam num amplo campo aberto, ninguém poderia ter se aproximado da carroça sem que ela percebesse, muito menos um grupo inteiro de crianças. Logo, a menina abriu a boca para perguntar à sua mãe quem eram seus mais novos acompanhantes de vigem, mas antes que sequer pudesse terminar sua pergunta, sua doce mãe se mostrou brusca e dura: mandou fazer silêncio.

Só então minha avó percebeu que os adultos não conversavam mais.

Quem eram as crianças de branco que apareceram do nada? Por que os adultos exigiam silêncio? Como sequer aquele grupo parou ali sem que ela percebesse? Sua curiosidade tornou-se pavor.

Sua mãe tentava se mostrar calma, talvez a fim de evitar que filha se desesperasse ainda mais, mas era evidente no suor que refletia a luz do sol em sua tez, que aquilo era apenas uma fachada. O charreteiro parecia hesitar em sequer fazer soar os estalidos e ordens necessárias para guiar os cavalos que puxavam a carroça. A pobre menininha que era minha avó nessa época, que mal entendia como o mundo funcionava, e tinha apenas uma instrução a seguir nessa situação, deixada praticamente às cegas: faça silencio.

Felizmente, os passageiros que haviam aparecido na caçamba da carroça tão de repente, depois de tantos minutos de passeio, ainda em silêncio, simplesmente desceram da carroça um a um, ainda no meio do nada. Então, eles tomaram uma direção tão desprovida de civilização quanto qualquer outra naquele ermo, e continuaram a caminhar, até que desapareceram por trás do horizonte.

Uma ou duas horas depois do evento, os adultos voltaram a mostrar alguma vivacidade, mas o bom-humor de antes parecia ter evaporado, e ambos apenas recusavam responder qualquer pergunta da garotinha quanto sobre as crianças de branco...

 




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