Eu já falei sobre como eu gosto de histórias que pendem para um lado mais sombrio, e já defendi esse tipo de conteúdo. Mas dessa vez eu vou fazer exatamente o oposto: tá na hora de discutir o que eu NÃO gosto nessas histórias, para manter o senso crítico apurado... E também em parte porque recentemente li um livro não muito bom, escrito por uma pessoa pior ainda, e eu quero desabafar sem dar atenção para essa obra, para que ela seja esquecida pra sempre, porque eu sou amargo assim.
E por que não começar pelo que eu considero o pilar de
qualquer boa história: seus protagonistas?
Existem inúmeras formas de se escrever um protagonista ruim,
mas algumas delas se destacam mais, são mais comuns dentro de livros que se
vendem como sombrios, ou maduros, etc. E com certeza você já leu ou assistiu uma
história com um personagem assim.
Começando pelo protagonista revoltado: quando bem executado,
esse tipo de personagem tende a ser uma peça muito ativa e direcionada na
história na qual está inserida, geralmente a causa de muitas mudanças, e pode
ser muito divertido acompanha-lo... quando mal executado, porém, é só uma
pessoa que está irritada 24 horas por dia, 7 dias por semana, e não trata nem a
própria mãe bem, que está sempre sendo rude com tudo e todos a sua volta, e
mesmo assim fica recebendo tratamento especial de seus amigos (que em qualquer
cenário realista jamais iriam quere ficar perto dessa pessoa). Esse personagem
vai chutar a porta da casa do seu “melhor amigo” morrendo de câncer, matar o
cachorro dele, cagar no chão, fazer um discurso para o aflito dizendo que nunca
amou ele, e o autor vai passar a mão na cabeça desse cara e dizer que ele é só
um coitadinho malcompreendido e que seu amigo ama ele mesmo asism <3
Eu não sou o tipo de pessoa que considera especialmente
embaraçoso escrever “power fantasy” ou “wishfulfilment”, criar uma história
para viver algo que desejas viver no mundo real através de seu protagonista,
tipo uma história onde o personagem principal é incrivelmente lindo ou linda e
todo mundo se apaixona por ele ou ela, ou o protagonista é o mais forte do
mundo – vocês entenderam a ideia. Mas quando sua fantasia é ser desproporcionalmente
cruel com todas as pessoas ao seu redor, mesmo quando elas te tratam apenas com
carinho e amor, eu te acho um merda. Você é a última pessoa do mundo que merece
qualquer fração de poder. E eu duvido que você tenha amigos na vida real,
porque você é um merda.
Mas enfim, já falei demais dos protagonistas revoltados,
vamos para outro clichê que eu odeio: o mundo é horrível.
Pode parecer estranho que eu diga que não gosto desse clichê
quando eu me coloco como defensor de histórias edgy e tal, mas o que eu quero
dizer com isso não é quando o autor cria uma história que se passa num mundo
terrível onde felicidade é algo pelo qual você tem que lutar com unhas e
dentes, porque eu acho isso muito divertido, todo esse processo de criar
o próprio final feliz ao invés de retornar para ele ou alcança-lo. Não, o que
eu quero dizer é uma história onde não existe felicidade alguma, onde paz de
qualquer forma é fisicamente impossível, um mundo tão podre que nem merece ser
salvo, onde não existe esperança alguma, onde morrer é a melhor opção para
qualquer um dos seus habitantes.
Eu sinto que os autores dessas histórias perdem
completamente o fio da meada, que veem um vídeo sobre Warhamer 40K acham a
história legal e querem recriar algo do tipo sem entender nenhum dos paralelos
ou reconhecer nenhum dos absurdos da história, que fazem um mundo “grimdark”
fazer sentido como uma obra de ficção mesmo.
São histórias onde o autor jamais se perguntou “espera aí:
por que o João Protagonista está tão determinado a salvar o Planeta da Tortura
Infinita?” Porque não existe uma resposta para isso. Porque sem a intervenção
do autor ou esse mundo já teria colapsado a muito tempo, ou todo mundo que
habita ele já teria cometido suicídio.
E isso tudo me leva só a desejar que os personagens
principais falhem em sua missão de salvar a “Dimensão Onde Todo Mundo Tem
Herpes”. E se eles vencerem, eu não sinto empolgação nenhuma, tipo, okay?
Aproveitem seu sofrimento pelos próximos dez mil anos no “País da Esfolamento”?
Além desses, existem tantos outros clichês em livros de
ficção sombria que me incomodam, mas já estou irritado só de comentar sobre
esses dois, então ficamos por aqui dessa vez >:(
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