terça-feira, 8 de abril de 2025

Berserk Não é Sobre Perdão




            
Eu não acho que Berserk é sobre perdão ou deixar as coisas de lado.

Esse parece ser um discurso bem comum entre pessoas que assumem uma postura de filosofas, ou como vem ficando mais popular ultimamente “media literate” – os famosos “entendedores”, né - mas eu discordo.

Eu acho que Berserk é, na verdade, sobre o contrário, é sobre o nunca parar de resistir, sobre nunca aceitar injustiça como normal, é sobre ir contra a correnteza mesmo, sobre ver um homem que vendeu o mundo para o próprio benefício, apontar o dedo na cara dele e dizer que ele está errado sim, e jamais permitir que faça o que quiser.

Perto do fim do arco da era de ouro, quando Guts parte para descobrir qual o próprio sonho e tudo, ele chega à conclusão de que sua vida é sua espada, que sua arma é muito mais que apenas uma ferramenta para ele, mas seu caminho de vida mesmo. Foi através da espada que ele sobreviveu até então, brandir sua lâmina é o que ele faz de melhor, ele é bom nisso, e ele gosta disso. A gente vê nosso protagonista até participando de torneios que não necessariamente levam à morte de ninguém depois, usando sua maestria como esporte mesmo, e ele parece satisfeito com isso.

O que a maioria das pessoas usam como argumento de que Guts deveria ou ainda vai no futuro abandonar tudo para virar contador do Griffith, é aquele diálogo com o ferreiro Godo, onde ele diz que para o Guts que seu ódio é uma forma de fuga da tristeza, e que gera ações muito autodestrutivas, resumindo. E isso é verdade, o espadachim negro do primeiro arco era basicamente um suicida, ele parecia estar querendo morrer, e tomava várias atitudes que jamais faria em qualquer outra situação. Mas as pessoas leem esse discurso, esse pedido do Godo para Guts “fugir do ódio” (que estava destruindo a ele e aqueles que ele ama) como uma mensagem de “fuja de seus deveres e paixões”. Porém essa é uma tarefa impossível.

Não importa para onde Guts vá, Griffith sempre vai estar lá, se não o próprio, um de seus agentes. Bem como em nosso mundo real, em todo lugar sempre vai haver um nobre vendendo seu povo para o benefício próprio, sempre vai haver um sacerdote vendendo seus fiéis por mais poder, sempre vai haver um bandido para sacrificar tudo e todos para se comportar como um animal. Nem Guts nem ninguém pode fugir de nada disso, não importa para onde ele vá, e assumir uma postura de complacência perante esse comportamento e desprezar retaliação balanceada não torna pessoa nenhuma, fictícia ou real, num ser iluminado e moralmente superior, mas um indefeso que coloca a si mesmo e todos os outros ao seu redor em risco pelo benefício apendas do próprio ego.

Guts não DEVE abandonar sua missão de justiça para fugir para um paraíso idílico, porque o paraíso não existe. Mas ele vai continuar a lutar para fazer com que esse lugar exista, porque ele é aquele que resiste. Guts através da espada, e você como puder.

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